Min menu

Pages

Às duas da madrugada, eu estava na casa da minha irmã cuidando do filho dela, que tinha quatro anos, quando, de repente, meu marido me ligou. —Saia de casa agora mesmo, e que ninguém perceba —ele disse. Peguei o menino no colo e saí do quarto, mas, justo quando girei a maçaneta da porta, me deparei com algo tão aterrorizante que fiquei sem fôlego…

Capítulo 1 – A Sombra na Favela


A casa estava mergulhada em silêncio, exceto pelo som ocasional do vento que se infiltrava pelas frestas das janelas e o choro distante de um cachorro na rua. Eu segurava com cuidado o pequeno Lucas, filho da minha irmã, enquanto tentava não acordá-lo. Eram duas horas da madrugada, e a favela parecia dormir, mas o coração batia acelerado como se pressentisse algo ruim.

O telefone vibrou de repente, e a tela iluminou meu rosto com um brilho frio. Era meu marido. Sua voz, carregada de urgência, cortou o silêncio:
—Saia da casa agora… rápido! E ninguém pode perceber.

Meu corpo tremeu. Segurei Lucas mais firme contra o peito. —O que aconteceu? —perguntei, tentando manter a voz firme.
—Não tenho tempo de explicar. Só confie em mim e corra.

Cada passo meu ecoava pelo piso de madeira, quebrando o silêncio pesado da casa. A luz da lamparina projetava sombras que dançavam nas paredes, fazendo com que cada objeto parecesse vivo. Ao girar a maçaneta da porta, meu coração quase parou: refletida no vidro havia uma figura alta, imóvel, com olhos que brilhavam com um tom sobrenatural.

Lucas mexeu-se nos meus braços, soltando um leve gemido. O pânico subiu como uma onda: lembranças das histórias da favela sobre "O Sombra" inundaram minha mente. Diziam que ele aparecia nas noites silenciosas para levar crianças curiosas que não obedeciam aos pais.

—Corre! —gritei para mim mesma, enquanto descia as escadas em direção ao quintal, o cheiro da terra molhada misturando-se ao perfume das plantas do jardim da vizinha.

Foi nesse instante que meu marido surgiu, segurando uma lanterna. Sua mão tremia, mas a determinação nos olhos era clara. —Vai, por aqui! —gritou, iluminando a sombra que nos seguia.

Corremos pelos becos estreitos, desviando de sacos de lixo e pulando poças de água da chuva. Cada sombra parecia se mover conosco, mas de forma silenciosa, quase flutuante. Meus pulmões queimavam, meu corpo gritava por descanso, mas não podíamos parar. Finalmente, chegamos à rua principal, onde os primeiros vendedores ambulantes acendiam suas luzes e abriam os carrinhos de comida. A sombra desapareceu, como se nunca tivesse estado ali.

Respirando com dificuldade, abracei Lucas contra meu peito. —Está tudo bem agora… —sussurrei, embora meu coração ainda batesse descompassado.
—Nunca mais fique sozinha lá —meu marido disse, os olhos cheios de preocupação e alívio.

Mas naquela manhã, enquanto o sol tingia o céu de laranja, percebi que a favela ainda guardava mistérios. Nem toda sombra desaparece com a luz do dia.

Capítulo 2 – O Segredo da Noite


Os dias seguintes foram silenciosos e tensos. Minha irmã voltava do trabalho cansada, e eu sentia um peso constante no peito. Cada vez que Lucas caía no sono, eu verificava as janelas, cada porta, como se a sombra pudesse voltar a qualquer momento.

Na sexta-feira, decidi conversar com Dona Marlene, vizinha mais velha e guardiã das histórias da comunidade. Ela me recebeu com um sorriso cansado, mas seus olhos carregavam uma sabedoria inquietante.
—Você viu o que eu penso que viu, menina? —perguntou, enquanto nos sentávamos na pequena cozinha iluminada por uma lâmpada pendurada no teto.

Eu contei tudo, desde o telefonema do meu marido até a figura refletida no vidro da porta. Dona Marlene ouviu em silêncio, assentindo de vez em quando.
—Ah, minha filha… O Sombra não é só uma lenda. Ele aparece para avisar que algo ruim está por vir. Mas poucos entendem a mensagem. Você teve sorte de escapar.

As palavras dela aumentaram meu medo, mas também minha curiosidade. —Que tipo de aviso? —perguntei, minha voz quase um sussurro.

Ela respirou fundo, olhando para o quintal da casa, onde as sombras das plantas se alongavam com o sol poente.
—Ele escolhe quem merece ver, mas nunca se revela completamente. Se você quiser entender, precisará enfrentar a noite, olhar para ele sem medo. Mas cuidado… —sua voz tremia —, nem todos saem vivos dessa experiência.

Mais tarde, naquela mesma noite, ouvi o choro de Lucas no quarto. Corri até ele e percebi que a lanterna do meu marido ainda estava ligada, como se tivesse sido deixada ali propositalmente. Um arrepio percorreu minha espinha. Então, a sombra apareceu novamente, na porta do quarto, desta vez ainda mais próxima, mais definida.

—Quem… quem é você? —perguntei, minha voz falhando.

Nada respondeu. Apenas olhou, os olhos brilhando com uma intensidade que penetrava minha alma. Um sentimento de déjà vu misturado com medo tomou conta de mim. A sombra parecia avaliar cada movimento meu, cada batida do meu coração.

No dia seguinte, meu marido explicou que havia recebido mensagens anônimas sobre um perigo iminente na favela, envolvendo criminosos que planejavam algo grande. A sombra… talvez fosse um aviso, uma forma de proteção que ninguém além de nós podia entender.

O medo e a curiosidade se misturavam, criando um turbilhão de emoções. Eu sabia que precisava enfrentar a noite seguinte, mas não sabia se minha coragem seria suficiente para sobreviver àquilo que se escondia nas sombras.

Capítulo 3 – A Escolha da Escuridão


A noite caiu como uma cortina pesada, e eu me preparei para o que sabia que viria. Lucas dormia, e meu marido mantinha a lanterna pronta. Desta vez, não correria; precisava entender a sombra, descobrir sua mensagem.

Ao abrir a porta do quarto, senti o mesmo arrepio que me havia paralisado dias antes. A figura estava lá, imóvel, mas não parecia ameaçadora desta vez. Seus olhos brilhavam com um tom quase humano, e uma sensação estranha de calma começou a tomar meu corpo.

—O que você quer? —perguntei, tentando manter a voz firme.

A sombra moveu-se, e percebi que estava apontando para a rua, para um beco que eu sempre evitava. Meu marido olhou para mim, apreensivo, mas eu assenti. Precisávamos seguir a indicação.

Corremos silenciosamente pelo beco. O ar estava frio, úmido, e cada passo ecoava entre os prédios. No final do caminho, encontramos um grupo de jovens armados, prestes a cometer um assalto a um carrinho de frutas. A sombra desapareceu, e apenas o brilho de seus olhos ficou por um instante, como se dissesse: “Agora você sabe”.

—Graças a Deus… —sussurrei, aliviada. Meu marido segurou minha mão, e Lucas, ainda adormecido no nosso colo, parecia seguro, protegido.

A partir daquele dia, entendi que a favela tinha suas próprias maneiras de proteger os inocentes. As sombras, os rumores, as histórias… tudo fazia parte de um equilíbrio que poucos compreendiam. E eu sabia que jamais esqueceria aquela noite, nem o que aprendi: algumas lendas são reais, e nem sempre se escondem à luz do dia.

Mesmo agora, quando ouço um estalo na madeira ou vejo um reflexo estranho na janela, lembro da sombra que salvou nossas vidas. Um aviso, uma proteção… ou apenas um enigma da noite.

E assim, aprendi a respeitar o mistério da favela, a perceber que algumas presenças invisíveis nos guiam, mesmo nas horas mais escuras.

‼️‼️‼️Nota final para o leitor: Esta história é inteiramente híbrida e ficcional. Qualquer semelhança com pessoas, eventos ou instituições reais é mera coincidência e não deve ser interpretada como fato jornalístico.

Comentários