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O homem rico visitava o túmulo da filha todos os fins de semana, até que, certo dia, de repente, uma menina pobre apareceu. Ela apontou para a lápide e, com a maior naturalidade do mundo, disse: — Senhor… a moça que está aqui mora perto da minha casa. Surpreso e sem pensar duas vezes, o homem seguiu a menina apressadamente. Foi então que ele ficou completamente chocado ao descobrir que…

CAPÍTULO 1 – O SUSSURRO ENTRE OS TÚMULOS


Todos os domingos, exatamente às oito da manhã, Antônio Ribeiro atravessava os portões enferrujados do antigo cemitério católico da zona sul de São Paulo. O silêncio ali não era paz, era peso. Ciprestes altos lançavam sombras longas sobre as lápides, e as estátuas de anjos pareciam cansadas de vigiar os mortos.

Antônio sempre vestia preto. Não por luto social, mas porque não sabia mais usar outra cor. Em suas mãos, flores brancas. Nunca vermelhas. Vermelho lembrava sangue, lembrava sirenes, lembrava aquela noite que ele tentava esquecer havia sete anos.

Ele se ajoelhou diante da lápide de mármore simples.

LUÍSA RIBEIRO
1998 – 2018
“Para sempre em nossos corações”

— Me perdoa, filha… — murmurou, com a voz rouca. — Eu devia ter chegado mais cedo.

Falava isso todos os domingos. Sempre a mesma frase. Sempre o mesmo vazio.

O vento soprou leve. Antônio fechou os olhos. E então ouviu uma voz.

— Moço…

Ele abriu os olhos com um sobressalto. À sua frente estava uma menina magra, descalça, com um vestido gasto e sujo de poeira. A pele morena brilhava sob o sol fraco da manhã. Os olhos, grandes demais para aquele rosto pequeno, não demonstravam medo. Demonstravam certeza.

— O que você quer? — perguntou Antônio, incomodado. — Aqui não é lugar pra criança.

A menina não respondeu. Apenas estendeu o dedo fino e apontou para a lápide.

— A moça que mora aí vive perto da minha casa.

O mundo pareceu parar.

— Como é que é? — Antônio se levantou abruptamente. — Você está confundindo as coisas. Minha filha… morreu.

A menina balançou a cabeça, com firmeza.

— Não morreu, não. Ela canta de noite. Às vezes chora baixinho.

Antônio sentiu o coração bater forte demais. Um frio subiu pela espinha.

— Quem te mandou dizer isso? — a voz dele saiu mais dura do que queria.

— Ninguém. Eu ouvi. — Ela deu de ombros. — Ela fala seu nome dormindo.

— Isso é impossível… — sussurrou Antônio, mais para si mesmo.

A menina virou-se e começou a andar entre os túmulos.

— Espera! — Antônio gritou.

Ela não parou.

Sem pensar, dominado por uma mistura de raiva, medo e uma esperança absurda que ele jurava estar morta havia anos, Antônio a seguiu.

Cada passo parecia afastá-lo da razão… e aproximá-lo de algo que ele não estava pronto para enfrentar.

CAPÍTULO 2 – A VERDADE NA FAVELA


A menina saiu do cemitério e seguiu por ruas cada vez mais estreitas. O asfalto virou rachadura. Os prédios deram lugar a casas de tijolo aparente. O cheiro de comida simples misturava-se com umidade e lixo.

— Ei, menina! — Antônio chamou, ofegante. — Pra onde você está me levando?

— Pra casa. — Ela respondeu sem olhar para trás.

— Qual é o seu nome?

— Rosa.

Entraram numa favela na periferia, onde fios elétricos se cruzavam como teias e crianças brincavam descalças entre becos. Antônio sentia olhares desconfiados sobre ele. O terno caro destoava de tudo.

Rosa parou diante de uma casa pequena, com porta de madeira torta.

— É aqui.

— Aqui o quê? — Antônio perguntou, com o coração disparado.

Ela empurrou a porta.

O interior era simples. Uma lâmpada pendurada iluminava fracamente o cômodo. No fundo, sobre uma cama improvisada, uma jovem muito pálida respirava com dificuldade.

Antônio deu um passo à frente.

E o chão desapareceu sob seus pés.

O rosto. O nariz. A curva dos lábios. Mesmo envelhecida, mesmo frágil… era Luísa.

— Não… — ele sussurrou, com os olhos marejados. — Isso não pode ser real.

A jovem abriu os olhos lentamente. Demorou alguns segundos até focar nele.

Então, com a voz fraca:

— Pai…?

Antônio caiu de joelhos.

— Minha filha… minha filha… — repetia, chorando sem controle.

Uma mulher mais velha surgiu da cozinha.

— Eu sabia que esse dia ia chegar… — disse ela, com tristeza. — Sou Dona Marta. Encontrei sua filha anos atrás. Ela estava perdida, doente, sem documentos.

— Mas… ela morreu… — Antônio balbuciou. — O hospital disse que ela morreu!

— Disseram errado. — Dona Marta respirou fundo. — Depois do acidente, levaram ela embora. Gente ruim. Usaram ela, exploraram. Quando ficou doente, largaram.

Luísa segurou a mão do pai com esforço.

— Eu não lembrava… — murmurou. — Só agora comecei a lembrar. Das músicas… da sua voz…

A culpa esmagou Antônio como nunca antes.

Todo o dinheiro. Todo o poder.
E ele não tinha visto os invisíveis.

CAPÍTULO 3 – ONDE NASCE A ESPERANÇA


Antônio levou Luísa imediatamente para um hospital particular. Os melhores médicos. Os melhores quartos. Mas havia coisas que o dinheiro não consertava.

Ele ficou ao lado dela todos os dias. Segurava sua mão. Contava histórias da infância. Cantava as músicas que ela lembrava.

— Pai… — Luísa disse certa noite. — Não fica triste. Eu te encontrei de novo.

— Eu devia ter te encontrado antes… — ele respondeu, com lágrimas.

Ela sorriu, fraca.

— Agora é o bastante.

Luísa partiu semanas depois, em paz, não sozinha.

No funeral, Antônio não levou flores brancas. Levou Rosa pela mão.

— Posso chamar você de pai? — ela perguntou, insegura.

Ele se ajoelhou diante dela.

— Se você quiser… eu adoraria.

Antônio vendeu parte de sua fortuna. Criou uma fundação para crianças desaparecidas e famílias das favelas. Dona Marta passou a trabalhar com ele. Rosa foi matriculada na escola.

Todos os domingos, Antônio não vai mais ao cemitério.

Vai a lugares onde ainda há vida para ser cuidada.

Porque ele aprendeu, tarde demais, que nem todos os mortos estão enterrados… e muitos vivos só precisam ser vistos.

‼️‼️‼️Nota final para o leitor: Esta história é inteiramente híbrida e ficcional. Qualquer semelhança com pessoas, eventos ou instituições reais é mera coincidência e não deve ser interpretada como fato jornalístico.

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