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Segui a posição dos meus pais e feri a dignidade do meu namorado pobre; cinco anos depois, ao reencontrá-lo, fiquei atônita diante do desfecho amargo que eu mesma havia provocado…

CAPÍTULO 1 – O AMOR QUE NÃO CABIA NO MEU MUNDO


Eu ainda lembro do som da porta se fechando atrás de mim naquela noite.

Não foi um estrondo.
Não houve gritos.
Foi apenas um clique seco — e, ainda assim, soou como o fim de algo que eu jamais conseguiria consertar.

— Você tem certeza disso, filha? — a voz da minha mãe ecoava na sala ampla, cheirando a café recém-passado e móveis caros.

Meu pai permanecia em silêncio, sentado à cabeceira da mesa, com as mãos entrelaçadas como se estivesse prestes a fechar um negócio importante.

E, de certa forma, estava.

O negócio era o meu futuro.

Eu respirava fundo, tentando não tremer. Do outro lado da mesa, Mateus permanecia em pé, desconfortável, com a camisa simples bem passada e os dedos marcados pelo trabalho pesado. Ele tinha vindo direto do Mercado Central, ainda com o cheiro de frutas e sol grudado na pele.

— Nós gostamos de você, Mateus — começou meu pai, com aquela voz calma que sempre antecedia algo cruel. — Mas precisamos ser realistas.

Mateus assentiu, respeitoso.

— Eu entendo, senhor.

— Você entende? — minha mãe inclinou a cabeça, analisando-o como se fosse um objeto fora do lugar. — Então entende que amor não sustenta uma casa. Que sonhos não pagam contas. Que a vida exige… estabilidade.

O silêncio que se seguiu foi pesado.

Eu olhei para Mateus. Esperei que ele dissesse algo. Qualquer coisa. Que lutasse. Que se defendesse. Que dissesse que me amava.

Mas ele apenas baixou os olhos.

— Eu faço o que posso — murmurou. — Trabalho desde os quinze anos. Só preciso de tempo.

Meu pai suspirou.

— Tempo é um luxo, meu rapaz. E minha filha não pode se dar a esse luxo.

Foi então que percebi: aquela conversa não era um diálogo. Era um julgamento.

E eu… eu estava sentada do lado dos juízes.

— Filha — minha mãe tocou meu braço —, você é inteligente. Tem um futuro brilhante. Não pode jogá-lo fora por um romance juvenil.

Mateus me olhou. Seus olhos castanhos estavam cheios de expectativa.

— Você acha isso também? — perguntou baixinho.

O mundo pareceu parar.

Eu quis dizer não.
Quis correr até ele, segurar sua mão, dizer que enfrentaríamos tudo juntos.

Mas o medo falou mais alto.

Medo de decepcionar meus pais.
Medo de uma vida difícil.
Medo de errar.

— Eu… — minha voz falhou. — Talvez eles tenham razão.

O rosto de Mateus perdeu a cor.

— Então é isso? — perguntou, quase num sussurro. — Você vai deixar que decidam por você?

Não respondi.

E naquele silêncio, algo se partiu para sempre.

Ele assentiu lentamente, como quem aceita uma sentença.

— Pensei que você lutaria por nós.

Depois disso, virou-se e saiu.

Não chorei naquela noite.
Nem na semana seguinte, quando liguei para terminar tudo “de forma madura”.
Nem quando repeti, palavra por palavra, os argumentos dos meus pais.

Mas chorei meses depois, sozinha, ao perceber que havia trocado amor por conforto — e chamado isso de escolha certa.

CAPÍTULO 2 – O ENCONTRO QUE DOEU MAIS QUE A DESPEDIDA


Cinco anos se passaram.

Eu tinha tudo o que meus pais queriam.

Um bom emprego em São Paulo.
Um namorado educado, previsível.
Um apartamento bonito, silencioso demais.

E um vazio que nenhuma conquista preenchia.

Voltei a Belo Horizonte a trabalho numa terça-feira chuvosa. Após uma reunião cansativa, parei numa cafeteria perto da Praça Sete. Pedi um café e fiquei olhando pela janela, distraída.

Então ouvi a música.

Uma melodia simples, tocada no violão, carregada de uma tristeza que me fez arrepiar.

Olhei para fora.

E o vi.

Mateus.

Mais magro. Barba por fazer. Uma cicatriz cortando a sobrancelha esquerda. Sentado no chão, com um violão gasto e um boné aberto para moedas.

Meu coração disparou.

— Mateus…? — chamei, quase sem voz.

Ele ergueu os olhos devagar. Demorou alguns segundos para me reconhecer.

— Ah… — murmurou. — Você.

Nenhuma raiva. Nenhum sorriso. Só cansaço.

— Posso… posso pagar um café pra você? — perguntei.

Ele hesitou, mas acabou concordando.

Sentamos frente a frente. O silêncio era pesado.

— Você… está bem? — arrisquei.

Ele soltou uma risada amarga.

— Depende do que você chama de “bem”.

Contou que, depois do nosso término, perdeu o emprego. A mãe adoeceu. As contas se acumularam. Tentou trabalhar como músico, mas a vida não foi gentil.

— Quando você foi embora — disse, mexendo no copo —, eu perdi mais do que você imagina. Perdi a vontade de tentar.

Meu peito apertou.

— Eu não sabia que tinha sido tão difícil…

— Claro que não. Você seguiu em frente. Como todo mundo faz.

Engoli em seco.

— Eu nunca te esqueci.

Ele me encarou, sério.

— Esquecer não é o problema. O problema é lembrar e perceber que não valeu a pena sonhar.

Senti os olhos arderem.

— Eu te amei, Mateus.

— Amou… mas não o suficiente.

Não havia acusação em sua voz. Só constatação.

CAPÍTULO 3 – O QUE NÃO PODE SER DESFEITO


Quando nos levantamos, eu sabia que aquele seria nosso último encontro.

— Posso te ajudar — falei apressada. — Tenho contatos, posso…

Ele balançou a cabeça.

— Não. — Seus olhos eram firmes. — Já perdi demais. Não vou perder minha dignidade também.

Respirei fundo, tentando conter as lágrimas.

— Me perdoa.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos.

— Eu já perdoei. Mas isso não muda o que aconteceu.

Pegou o violão, colocou-o nas costas e deu alguns passos. Antes de ir, virou-se.

— Às vezes o amor não acaba. Ele só vira uma lembrança que dói demais pra tocar.

E foi embora.

Fiquei ali, parada, vendo-o se misturar à multidão.

Naquela noite, chorei como não chorava desde jovem. Não por ele apenas — mas por mim, pela mulher que tive medo de ser, pelas escolhas que fiz por covardia.

Entendi, finalmente, que nem todo erro pode ser consertado.
Que algumas perdas nos acompanham para sempre.
E que o maior castigo não é perder alguém…

…é viver sabendo que fomos nós que o empurramos para longe.

Desde então, sempre que ouço um violão nas ruas de Belo Horizonte, meu coração aperta.

Porque sei que, em algum lugar, existe um amor que eu abandonei.

E um homem que pagou o preço do meu medo.

‼️‼️‼️Nota final para o leitor: Esta história é inteiramente híbrida e ficcional. Qualquer semelhança com pessoas, eventos ou instituições reais é mera coincidência e não deve ser interpretada como fato jornalístico.

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