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Um jovem recém-contratado, que acabara de começar a trabalhar na empresa, era constantemente menosprezado e sabotado pelo chefe do departamento. Certo dia, apenas por se recusar a acobertar as atitudes erradas do superior, ele acabou levando café derramado sobre o próprio corpo. E, menos de dez minutos depois, o diretor da empresa apareceu de repente e revelou a verdadeira identidade do rapaz, fazendo o chefe empalidecer de medo…

Capítulo 1 – O Café Queimado


O líquido quente escorreu pelo peito de Lucas antes que ele tivesse tempo de reagir.

O cheiro forte de café tomou conta da pequena sala de descanso, misturando-se ao silêncio pesado que se formou imediatamente. A camisa branca, passada com tanto cuidado naquela manhã, agora estava manchada, colada ao corpo. O ardor na pele era real, mas não foi isso que fez o coração de Lucas disparar — foi o sorriso torto no rosto de Roberto Alencar.

— Foi sem querer — disse Roberto, com uma voz fria, quase entediada. — Minha mão escorregou.

Lucas levantou os olhos devagar. O mundo parecia ter diminuído de tamanho, como se só existissem os dois ali.

— Sem querer? — perguntou Lucas, controlando a respiração.

Roberto deu de ombros, apoiando-se na bancada como quem observa algo sem importância.

— Talvez você devesse aprender a cooperar — completou. — Aqui dentro, quem não sabe fechar os olhos… não dura muito.

As palavras ficaram suspensas no ar.

Lucas sentiu um aperto no peito, não de medo, mas de algo mais profundo. Lembrou-se da mãe acordando às quatro da manhã para assar pão de queijo. Lembrou-se do pai, do capacete amassado que nunca voltou para casa. Lembrou-se de tudo o que precisou engolir para chegar ali.

— Eu não vou assinar um relatório falso — disse, finalmente. — Não importa o que o senhor faça.

O sorriso de Roberto se abriu um pouco mais.

— Você acha mesmo que é alguém para me desafiar?

Antes que Lucas pudesse responder, Roberto saiu da sala, deixando para trás o cheiro de café e uma sensação amarga de humilhação.

Lucas ficou sozinho por alguns segundos. Olhou para a camisa manchada, respirou fundo e lavou o rosto na pia. “Só mais um dia”, pensou. “Aguenta só mais um dia.”

Mal sabia ele que aquele dia estava longe de terminar.

Quando Lucas voltou para o andar da operação, o clima estava estranho. Pessoas cochichavam, olhares curiosos se cruzavam. Então, o som inconfundível das portas do elevador se abrindo ecoou pelo corredor.

Duas figuras de terno escuro saíram primeiro. Logo atrás, um homem alto, de cabelos grisalhos e postura firme.

Miguel Alencar.

O CEO da Alencar Logística. Um nome que poucos viam de perto e quase ninguém esperava encontrar assim, sem aviso.

Miguel caminhou alguns passos e parou. Seus olhos pousaram diretamente em Lucas. Na camisa manchada. No semblante contido.

— Lucas — disse ele, com voz calma. — Está tudo bem?

O chão pareceu desaparecer sob os pés de Roberto, que se aproximava naquele instante.

— S-senhor Miguel… — balbuciou ele. — Que surpresa.

Miguel não desviou o olhar de Lucas.

— Posso saber o que aconteceu com a camisa dele?

Roberto engoliu em seco.

— Um acidente… nada demais.

Miguel virou-se lentamente para ele.

— Roberto — disse, pausadamente —, o que você fez com meu neto?

O silêncio foi absoluto.

— Net… neto? — repetiu Roberto, pálido.

Miguel colocou a mão no ombro de Lucas.

— Lucas Moreira. Filho de Ana Moreira. Minha família.

Roberto sentiu as pernas fraquejarem.

— Mas isso não é tudo — continuou Miguel. — Eu vim observar esta empresa de perto. E, infelizmente, vi coisas que não condizem com o que construí.

Um dos homens de terno colocou uma pasta grossa sobre a mesa.

— Relatórios alterados, contratos inconsistentes, pressão sobre funcionários — enumerou Miguel. — Inclusive sobre um jovem que se recusou a mentir.

Roberto tentou falar, mas nenhum som saiu.

— Aqui, Roberto — disse Miguel, com firmeza. — Não se pune quem age certo.

Dois seguranças se aproximaram.

Lucas sentiu o coração bater forte, não por vingança, mas por alívio.

Aquela manhã em São Paulo nunca mais seria a mesma.

Capítulo 2 – Sob Olhares e Sombras


Nos dias que se seguiram, o nome de Lucas ecoou pelos corredores da Alencar Logística como um sussurro inquieto. Alguns colegas o observavam com respeito recém-descoberto; outros, com desconfiança. Para muitos, ele deixou de ser apenas “o novato”.

Lucas, por sua vez, sentia-se dividido.

Sentado à mesa simples do apartamento da mãe, naquela noite, ele girava o copo de suco nas mãos.

— Eu não queria isso, mãe — disse em voz baixa. — Eu só queria trabalhar.

Ana Moreira o encarou por cima dos óculos, com aquele olhar firme que Lucas conhecia desde criança.

— E foi exatamente isso que você fez — respondeu. — Trabalhou com dignidade.

— Mas agora todos sabem quem eu sou.

Ana sorriu de leve.

— Quem você é nunca mudou, Lucas. Só ficou visível.

No dia seguinte, Miguel pediu que Lucas fosse até sua sala. O ambiente era amplo, com janelas enormes mostrando o caos organizado de São Paulo lá embaixo.

— Eu não te contei antes porque precisava saber — disse Miguel, enquanto servia café. — Se você seria íntegro mesmo quando achasse que estava sozinho.

Lucas apertou os lábios.

— Eu fiquei com medo, vô.

— Coragem não é ausência de medo — respondeu Miguel. — É não se vender a ele.

Miguel ofereceu a Lucas uma posição melhor, mais próxima das decisões estratégicas. Lucas hesitou.

— As pessoas vão achar que foi favoritismo.

— Elas já acham — disse Miguel, sem rodeios. — O que importa é o que você fará a partir de agora.

Lucas aceitou.

Mas o caminho não ficou mais fácil.

Alguns gerentes evitavam falar com ele. Outros testavam seus limites, esperando falhas. Lucas sentia o peso de cada decisão, de cada assinatura, como se estivesse sempre sendo avaliado.

Certa tarde, um colega se aproximou.

— Você podia ter ficado quieto — murmurou. — Sua vida seria mais simples.

Lucas respondeu com calma:

— Talvez. Mas não seria minha.

Aos poucos, mudanças começaram a acontecer. Auditorias, reuniões abertas, novas políticas. Nem todos gostaram. Mas algo estava diferente.

Miguel observava tudo à distância, satisfeito.

— Você está aprendendo rápido — disse ele, certo dia.

Lucas olhou pela janela.

— O Brasil ensina cedo — respondeu. — Ou você se curva… ou aprende a ficar de pé.

Capítulo 3 – A Luz Que Fica


Um ano depois, o sol iluminava os prédios de São Paulo com a mesma intensidade de sempre.

Lucas estava agora no andar alto, como vice-gerente de operações. O crachá era diferente, o salário também. Mas algo nele permanecia igual.

Da varanda envidraçada, ele avistou uma figura conhecida na calçada: sua mãe, com a velha barraca de pão de queijo.

Lucas sorriu.

Mais tarde, desceu para encontrá-la.

— Você não precisa mais trabalhar assim, mãe — disse.

Ana limpou as mãos no avental.

— Eu trabalho porque gosto. Não porque preciso — respondeu. — Assim como você.

Lucas entendeu.

Naquela noite, Miguel o chamou para uma última conversa.

— A empresa está em boas mãos — disse o avô. — E o país precisa de gente assim.

Lucas respirou fundo.

— Eu só fiz o que achei certo.

Miguel assentiu.

— E é por isso que o sol continua nascendo — completou.

Lucas saiu do prédio e caminhou pela cidade que nunca dorme. Sabia que o Brasil ainda tinha muitas injustiças, muitos silêncios forçados.

Mas também sabia que, enquanto existissem pessoas dispostas a dizer “não”, mesmo tremendo, haveria esperança.

Sob o sol forte que nunca perdoa, Lucas Moreira seguiu em frente.

De cabeça erguida.

‼️‼️‼️Nota final para o leitor: Esta história é inteiramente híbrida e ficcional. Qualquer semelhança com pessoas, eventos ou instituições reais é mera coincidência e não deve ser interpretada como fato jornalístico.

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